segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Quanto vale a sua sanidade?




-Cara, que tédio... Essa aula nunca acaba? – Resmungava Rogério.
Durante uma aula comum de Física, Rogério estava entediado e como senta ao lado da janela, disfarçou o tédio observando a natureza. Nunca havia reparado nas coisas, sempre focado nas aulas, nos estudos e nas atividades e nunca sobrava tempo para olhar o mundo, e foi aí que notou algo.

Do lado de fora, ao lado direito de uma árvore bem grande, havia uma pessoa. Essa pessoa estava de inteiramente de preto e uma máscara do teatro triste. Mas por quê? Não era halloween e os cidadãos não estavam comemorando nada do gênero, então porque uma pessoa fantasiada?

O verdadeiro problema ainda estava pro vir, pois Rogério queria saber quem era a pessoa, afinal nunca vira um cidadão fantasiado e olhando-o de fora da escola. Acabada a aula, Rogério correu até a árvore e não havia nada por lá. Convenceu-se de que era o tédio lhe pregando peças pois muitas vezes dormira com o olho aberto e sua mente vagava pelo espaço. Foi embora dalí até o ponto de ônibus para voltar pra casa, e do outro lado da rua bem na esquina, novamente a pessoa fantasiada.

Foi assim durante uns dois dias, essa pessoa o observava da janela de sua casa, nas ruas e em todos os lugares que pudesse ir, então começou a ficar preocupado.

-Será que é um assassino? Pode estar me vigiando, mas porque fará isso sem ser secretamente. Digo, os assassinos não ficam por aí deixando todos verem quem são. Acho melhor eu procurar a polícia, mas antes, uma psicóloga. –Dizia Rogério.

Conseguiu uma consulta para dois dias e em todos esses dias via essa pessoa irritante:

-Esse cara não tem nada pra fazer? Estou perdendo a paciência, vou tentar falar com ele, pra parar com essa brincadeira besta. – Falava enquanto andava até seu quarto.

-Lá está ele, vou gritar. EI! SERÁ QUE DA PRA VOCÊ PARAR COM ISSO? JÁ ENCHEU O SACO. SE ALGUÉM ESTÁ TE PAGANDO PARA FAZER ISSO, CHEGA! QUE MERDA CARA, ISSO NÃO TEM GRAÇA. – Brigava.

A criatura não fez absolutamente nada. Exceto pelo fato de ter erguido a mão, apontado o dedo para Rogério e deslizado o dedo indicador no pescoço em sinal de morte. Queria dizer que mataria Rogério.

A mãe de Rogério ouviu o menino gritando e foi até lá ver o que estava acontecendo, era tarde da noite e não queria o filho dela gritando pela janela.

-Filho, o que está acontecendo? Por que está gritando? – Perguntava.

-Ah mãe, aquele trouxa lá fora fica me olhando. Já faz dias e estou com o saco cheio dele.

-Hm. Deixe-me ver. –Debruçada sobre a janela.  –Rogério, não há nada lá fora, você dormiu bem filho?

-Nada? Como não, está do outro lado da rua, um cara de preto e uma máscara, impossível não ver.

-Não filho, não vejo nada, apenas o poste, árvores, casas e carros dos vizinhos. Vou fechar a janela, vamos dormir.

Agora Rogério ficou preocupado. Como sua mãe não conseguia ver algo como aquilo? Era tão visível, não estava escondido e se destacava. Realmente era estranho, mas podia ser o estresse. As provas finais chegando, os trabalhos, estudos e falta de sono podia arruinar qualquer um. Dormindo um pouco é melhor.

Trocou de roupa e se preparou para dormir, como estava chovendo fechou apenas o vidro da janela para observar os delicados pingos batendo no vidro.

-Eu preciso dormir, tenho certeza que amanhã estarei melhor. Falarei com a Carmem mesmo, tudo se resolverá. –Cochilou.

Acordou no meio da noite para pegar o cobertor que havia caído de sua cama, e notou que a janela estava aberta e havia uma aguaceira da chuva no seu quarto e molhou seus livros, a TV e outras coisas. Foi fechar. Quando fechou a janela, virou-se para a cama e viu a criatura em posição de aranha em cima da cama. Um grito forte saiu de sua garganta.

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!!!!!!

Seus pais acordaram bruscamente e correram lá.

-O que foi filho? O que aconteceu? Você está bem? – Perguntava a mãe de Rogério

-EU VI MÃE, EU VI! ESTAVA AQUI, BEM NA CAMA, ME OLHANDO. FOI HORRÍVEL.

– Lágrimas corriam de seu rosto –

-O que aconteceu meu filho? Tinha alguém aqui? Vou pegar minha arma e andar pela casa, fiquem aqui no quarto e tranquem a porta que eu já volto – Disse o pai.

-Mãe a criatura estava aqui, você não conseguiu vê-la mas eu a vejo faz dias e cada dia parece que está mais nervosa, mais feia, não sei explicar. Hoje estava bem aqui na cama. – Eu não aguento mais.

Depois de alguns minutos conversando, Rogério dormiu na sala e acordou bem cedo. Seus pais tinham saído para trabalhar e sua consulta com a doutora era cedo também. Pegou o ônibus e foi até o consultório, olhando pela janela, cada esquina que passava a criatura estava lá. As visões se tornaram mais frequentes. Rogério chegou, sentou e esperou até que fosse chamado. Quando chegou até a sala de Carmem contou toda sua história. Enquanto contava a psicóloga anotava e ao olhar para o lado, a criatura estava sentada do seu lado, porém sem o manto preto dando a visão horrível de seu corpo cortado, velho e apodrecido.

Rogério deu um pulo do sofá e começou a tremer sem parar, chamaram uma ambulância. Os médicos chegaram e correram até a sala para ajudar o garoto. Levaram para a ambulância onde tomou soro, não foi preciso levá-lo dali pois era apenas um espanto que logo voltou ao normal. Os médicos perguntaram o que aconteceu e quando ia falar, lembrou que ninguém podia ver a criatura então inventou outra coisa.

Sabendo que a psicóloga não podia ajudar, Rogério começou a andar pela cidade vendo a criatura sem seu manto. O que era mais perturbador, pois seu corpo era horrível. Olhando novamente, viu a criatura fazer o gesto do dedo indicador sobre o pescoço, querendo dizer que ia matá-lo. Em um acesso de fúria, Rogério correu em direção ao homem mas parou. Estava tão cansado e com medo que pensou duas vezes.
Notou que havia uma igreja na outra rua, então foi até lá apesar de não ser religioso. Entrou e correu até o altar onde ajoelhou-se e começou a chorar pedindo para tirar-lhe os olhos pois não queria mais ver aquilo, era uma tortura mental. O padre apareceu e como todos, fazia a mesma pergunta:

-O que houve?

Novamente contou sua história e antes que pudesse terminar, viu a criatura sentada num dos bancos da igreja, porém sem uma parte da máscara, ficando a mostra sua boca, nariz e um dos olhos. Seu olhar de ódio era claro. Um olhar forte e nunca visto por ninguém, ninguém passaria uma mensagem daquela apenas pelo olhar e aquilo era um corte na alma para Rogério. Começou a chorar mais mas não correu, virou o rosto e abaixou a cabeça e continuou contando a história.

Levantou a cabeça quando o padre colocou a mão sobre suas costas e viu que o padre estava usando uma máscara. A mesma da criatura. Isso foi a gota d’água. Rogério correu pela cidade e todas as pessoas usavam máscaras. No meio do caos não sabia para onde ir e começou a desmaiar, vendo tudo embaçado observou a criatura sem máscara se aproximando mas não conseguiu vê-la.

Acordou no hospital com seus pais preocupados olhando-o pelo vidro do quarto. Estava amarrado na cama e por quê? Um dos médicos entrou no quarto e perguntou:

-Já consegue falar?

-S-Sim... O-o que houve?

-Você é esquizofrênico, apenas isso. Está amarrado para não nos preocuparmos com você.

-Eu não sou louco, eu não sou louco... – Disse Rogério bem baixinho. – EU NÃO SOU LOUCO, ME TIREM DAQUI EU QUERO SAIR, AAAAAAAAAAAAAAAAAH.

Se debatia na cama, mas estava amarrado então não obteve sucesso. Mais médicos chegaram e o acalmavam.

-Você está louco sim, alega ter visto algo que ninguém mais vê. Isso não acontece com pessoas normais.

Olhando pelo quarto, Rogério viu a criatura sem mascara e sem o manto. Era horrível sua forma, tinha o corpo escuro em tons de roxo, cortes pelo corpo todo, sua boca era roxa também uma cor típica de cadáveres. E os olhos ameaçadores.
Começou a ter convulsões. E passaram algumas semanas e Rogério não falava coisa com coisa, já estava totalmente desorientado por conta do medo extremo e agora, a criatura não saia de perto dele, literalmente perto. Ficava olhando-o na cama sem se mover. Passaram duas semanas e Rogério estava quase morrendo. Faltava pouco mais de oito segundos para ter uma parada cardíaca e a criatura disse as primeiras e últimas palavras que ele pode ouvir:

-Eu sugarei até a última gota de sua sanidade.

Nisso, os batimentos cardíacos de Rogério chegaram a zero. Os médicos tentaram salvar mas sem sucesso, seus pais chorando e sem sucesso.


Essa é a primeira história 100% exclusiva do Universo Sinistro, devemos isso ao Douglas Hackme que a fez unicamente para nossos leitores, obrigado!



Nenhum comentário:

Postar um comentário